ENTREVISTA À DRA. Yasmin Bhudarally, CEO DO HOTEL NEYA – PORTO

ENTREVISTA À DRA. Yasmin Bhudarally, CEO DO HOTEL NEYA – PORTO

Antes de tudo, agradecemos desde já à Dr.a Yasmin Bhudarally  por nos ter concedido esta entrevista. É muito importante para nós, a divulgação de boas práticas ambientais na Arquitetura, sendo que consideramos o Hotel Neya, no Porto, um bom exemplo que deve ser replicado. Bem haja!

PORTAL DA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL (PCS): No desenvolvimento deste projeto, o que apareceu primeiro: a vontade de o tornar um projeto sustentável, ou a certificação LEED?

Yasmin Bhudarally (YB): Sendo a sustentabilidade um dos conceitos integrantes do grupo, o objetivo de termos um projeto sustentável apareceu primeiro. Surge logo desde a fase da sua idealização e segue a filosofia do trabalho efetuado no NEYA Lisboa Hotel. A certificação LEED foi o passo natural para melhorar ou amadurecer o projeto desenvolvido em 2011 em Lisboa e tornar o NEYA Porto hotel ainda mais embutido dessa filosofia,  garantindo que a sua construção cumpre os mais rigorosos requisitos internacionais de sustentabilidade.

PCS: Uma vez que optaram pela certificação LEED, qual a importância de obter este certificado?

YB: A certificação LEED é de extrema importância para a NEYA Hotels por diversas razões, além de se revelar também uma mais valia para a indústria do Turismo, designadamente para a sustentabilidade na hotelaria. É um reconhecimento internacional que atesta todas as preocupações no âmbito da sustentabilidade e é um fator de diferenciação em relação a outros empreendimentos. Esta certificação internacional, sendo a mais exigente, complexa e reconhecida na área da construção sustentável, é uma garantia que o NEYA Porto cumpriu os requisitos de sustentabilidade na sua construção, o que permite um elevado desempenho também agora na fase de exploração. Torna-se ainda mais importante por ser o primeiro hotel com certificação LEED no nosso país, atingindo o nível Gold, um dos mais exigentes, o que evidencia o pioneirismo da NEYA Hotels, posicionando-se como líder nesta área, sendo ainda um reforço sólido do conceito de sustentabilidade da empresa e comprometimento da organização. É igualmente o reconhecimento externo do esforço de todos os agentes envolvidos neste processo, incluindo os colaboradores e parceiros que vivem o conceito de sustentabilidade dos hotéis.

PCS: Quais foram as maiores dificuldades encontradas na preparação do projeto para obter esta certificação?

YB: Uma vez que a certificação LEED esteve como parte integrante do programa, desde o início do projeto, todas as opções que foram feitas tiveram em conta os parâmetros definidos pela própria certificação. Esta abordagem fez com que o processo decorresse duma forma linear. As dificuldades foram mais no decorrer da obra, pois as opções de projeto muitas vezes não eram as mais correntes e teve que haver sempre a intransigência em algumas opções, de forma a nunca perder de vista o objetivo maior que era a obtenção da certificação, como resultado de um edifício que contém em si as soluções corretas em termos ambientais.

PCS: Considera que este será um exemplo a seguir? Na sua opinião, o que falta a Portugal, para que todos os empreendimentos possuam estas preocupações?

YB: Claro que consideramos que deverá ser seguido este exemplo. Consideramos ser a única forma de estar nos negócios e na sociedade hoje em dia. A responsabilidade ambiental deverá estar na génese de todos os projetos desenvolvidos e a certificação LEED é uma ferramenta bastante adaptada a este objetivo. Atualmente as preocupações ambientais estão na ordem do dia, por isso há uma maior consciência da importância em tomar as decisões corretas de forma a minimizar a pegada ecológica. Seria importante que as entidades oficiais que aprovam os projetos divulgassem e apoiassem ativamente as soluções que vão ao encontro do resultado pretendido.

PCS: Quais as grandes mais valias, em termos ambientais, que o hotel obteve?

YB: Podemos declarar que, acima de tudo foi o respeito pelo local, mantendo e respeitando grande parte do património existente. A integração no projeto de muitos dos materiais que existiam, que foram tratados de forma a poderem ser reintegrados na nova arquitetura. A questão da importância da proximidade dos materiais utilizados, de forma a reduzir a pegada ecológica do seu transporte, fez com que houvesse sempre uma grande preocupação na utilização de tudo o que é produto fabricado em Portugal, sendo que esta atitude ficou de tal maneira vinculada ao projeto que se expressa duma forma publica na “rotas das industrias” que são as suites, patrocinadas por marcas de relevância nacional que por sua vez também estiveram presentes de alguma forma na construção do edifício.

O ciclo da água, elemento tão presente nos antigos conventos. O local destes eram sempre locais onde havia água. Também aqui fizemos com que esta relação com este elemento se mantivesse e fosse respeitado, aproveitando parte da água de algumas nascentes para fazer a refrigeração do ar condicionado, tornando este mais amigo do ambiente. A recriação da fonte e do tanque no claustro torna visível a presença da água neste espaço tão emblemático do antigo convento, sendo que o seu murmurar volta a conferir-lhe o misticismo ancestral. A recuperação das águas cinzentas para as descargas sanitárias e para a rega, de forma a poupar a água, elemento finito e tão precioso.

Quanto a energias, podemos afirmar que as soluções implementadas vão desde a instalação de painéis solares térmicos e fotovoltaicos até ao desenvolvimento de um programa de gestão técnica centralizada da climatização e da iluminação, passando pelo isolamento térmico do edifício, pela total iluminação a LED e equipamentos energeticamente eficientes, entre outros. Todas estas soluções permitem uma efetiva otimização dos consumos energéticos.

Todos estes pequenos e grandes gestos fazem com que o conjunto do edificado tenha uma atmosfera muito especial, o edifício mantém-se vivo, pois foi respeitado a sua essência o seu equilíbrio e esta atitude talvez a mais importante é uma verdadeira atitude de sustentabilidade e harmonização.

PCS: Para além das vantagens ambientais, considera que as vantagens económicas obtidas são visíveis? Ou serão visíveis ao longo do ciclo de vida do edifício?

YB: As vantagens económicas são visíveis logo desde o primeiro momento, se bem que a sua evidência em termos expressivos será comprovada a médio e longo prazo e ao longo do ciclo de vida da unidade. Ao investirmos em soluções de eficiência energética, temos um retorno imediato, verificado ainda antes da abertura do hotel em termos de redução da fatura energética mensal, por exemplo. Outras vantagens económicas podem ser verificadas em relação aos consumos de água, a aquisição de produtos químicos e a redução dos custos relacionados com a gestão de resíduos, por exemplo. Outra vantagem, económica que se verifica logo desde a abertura é a captação de clientes que procuram alojamento em unidades que garantam redução da sua pegada ecológica nas suas viagens, facto que se verifica cada vez mais.

PCS: Conhece o certificado do Portal da Construção Sustentável, o SV+, que avalia a sustentabilidade do edifício no que se refere aos materiais utilizados?

Temos conhecimento da existência da certificação, mas não tínhamos noção do processo de certificação ou dos requisitos exigidos, assim como o grau de exigência de todo este processo. Será com certeza uma certificação sobre a qual tentaremos saber mais e avaliar as suas vantagens para a nossa atividade, até para possíveis futuros projetos do grupo.

PCS: Para finalizar, qual recado, digamos assim, que gostaria de dar a outros CEO de empreendimentos como este?

YB: Gostaria de conseguir transmitir a todos os CEO de empreendimentos hoteleiros as vantagens e importância deste tipo de gestão de sustentabilidade, assim como das certificações existentes. De facto, o paradigma do Turismo terá que mudar para assegurar a continuidade deste tão relevante sector. Todos temos que ser agentes da mudança para termos um Turismo sustentável. Esta mudança trará um retorno não só em termos de reconhecimento do sector e das nossas unidades, como acreditamos que também em termos financeiros. A hotelaria deve posicionar-se de uma forma socialmente responsável e ser uma mais-valia para a região onde se insere e para as comunidades que connosco convivem todos os dias. Somos inspirados por princípios éticos e fundamentais com vista a uma sociedade global justa, sustentável e pacífica.

Partilhar:
Dúvidas? Envie-me uma mensagem: